atravesso meu músculo
esgotado e sóbrio
as canecas e cigarros
os sapatos e casacos
compreendem
sem palavras.
vivo um amor que nunca guardo
deixo cair nas calçadas
e pessoas descalças
(nas avenidas guardadas
nas sombras das marquises
nos ladrilhos que se perdem
nas plantas que morrem
no suor das janelas
no cansaço dos pontos de ônibus
debaixo da porta vizinha)
p'ra reciclar os motivos
que o amor não tem
p'ra existir,
e ele se inventar de novo.
~
desbota sua cor no meu vestido
pelo amor de deus
diz no meu ouvido
mais uma maluquice azul
não peça p'reu guardar cuidado
ou refletir angústia nos meus dias gris
desfaz meu corpo em um recado
me pinta um romance
cheio de nuances
e me faz feliz.
~
a rua deserta
chupava meus passos
ficava com a vida
que eu mancho com os pés ao andar
nos grãos do chão
atrás do chão
embaixo da terra
embaixo do grão do chão.
~
meu passado e meu futuro:
mortos,
obsoletos fatos
que palpitam no meu músculo,
rubro e
pasmo e
gasto.
acontece mais um portanto
passo;
no silêncio que maltrata,
o minuto.
no meu estômago que enlata os defeitos,
e cospe com a minha mão direita.
e atravessa os motivos a distância
entre as respostas
e as perguntas
que invento:
tentando absorver o tempo,
enquanto nem um pouco obstante
misturo tudo ao teu retrato
e ato
ao átomo do meu peito
inato.
~
deixo por fim
caírem as palavras
que se soltam
palavras amarelas
que se buscam
e se beijam
debaixo da minha cama.
Um comentário:
Gostei muito , gosto da forma q vc escreve , abraço . Mantenha contato .
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